Por Juarez Duarte Bonfim
Em 1945
Mestre Daniel Pereira de Mattos se instalou na Vila Ivonete (Rio
Branco-Acre), nas margens de uma estrada do seringal Empresa, em área
pertencente ao Capitão Manuel Julião de Souza, seu compadre.
Ao lado de
sua humilde casinha Daniel ergueu uma pequena capela voltada para o
nascente, medindo mais ou menos 3X5m, uma construção rústica de taipa e
paus roliços, coberta de palha, e a consagrou a São Francisco das
Chagas.
Esta
Igrejinha era chamada de “capelinha” pelo Mestre Daniel e passou a ser
conhecida como Capelinha de São Francisco pelos seringueiros e caçadores
da região que, junto com seus familiares, procuravam aquele senhor
pretinho de óculos para aconselhamentos, rezas em crianças e lhes tirar
panema. Seus trabalhos espirituais eram realizados com a bebida
sacramental Daime, ou ayahuasca, usada desde tempos imemoriais pelos
indígenas da Amazônia Ocidental.
Em torno
da capelinha e da casa do Mestre Daniel foi se constituindo uma
comunidade religiosa, participante dos trabalhos espirituais. Um padre
católico amigo da Missão, que a conheceu no início dos anos 1960,
compara aquela comunidade a uma espécie de mosteiro franciscano.
Acontece
que as crianças das famílias que frequentavam o Culto de Oração do
Mestre Daniel e de seus sucessores, sofriam discriminações e
preconceitos nas escolas em que estudavam, por serem filhos de pais que
comungavam do Daime. Isso levou os participantes da Capelinha a se
organizarem para fugirem dessa perseguição.
Em 1963, o
vice-presidente da instituição, denominada Centro Espírita e Culto de
Oração “Casa de Jesus “Fonte de Luz”, o sr. Manuel Hipólito de Araújo
(1921 — 2000) toma a iniciativa de dar aulas para as crianças da
comunidade no próprio terreno da Igreja.
Assim
surgiu a Escola São Francisco de Assis: na sala de sua casa, uma
taperazinha de quarto e sala construída em taipa e coberta com latas de
querosene abertas, medindo quatro metros de largura por seis de
comprimento.
Ali, Manuel Araújo morava e lecionava. A escola primária improvisada teve inicialmente aulas noturnas e, depois, diurnas.
— Quando
eu estava aí com 30 alunos debaixo de uma taperazinha coberta de lata de
querosene, dentro de uma sala, eu chamei o governador aqui, Jorge
Kalume, e mostrei a ele em que condições eu estava procurando ajudar os
nossos irmãozinhos em idade escolar.
— Manuel, eu particularmente vou lhe dar 40 mil cruzeiros pra você iniciar uma escola de alvenaria aqui pra você.
Com o
recurso disponibilizado e mais alguns operários cedidos para a obra,
imediatamente Manuel Araújo começou a construção da escola, de
propriedade da Missão de Frei Daniel.
Com o passar
dos anos, a Vila Ivonete foi perdendo a sua condição de área florestal,
com uma rápida urbanização. A partir de 1967, a escola ampliou o seu
atendimento para as crianças dos bairros que vão se formando ao redor da
Igrejinha do Daime, tornando-se referência de apoio educacional.
A escola foi
registrada na Secretaria de Educação e, posteriormente, assinado um
convênio que formalizou a cessão para o governo. A direção da escola se
manteve sob a responsabilidade deste Centro Espírita e Culto de Oração —
que foi registrado no CNSS (Conselho Nacional de Serviço Social) no ano
de 1970.
O irmão
Manuel Araújo se manteve na direção da Escola São Francisco de Assis até
o ano de 1981. Atualmente, ela é um complexo educacional consolidado
que atende a 300 crianças, matriculadas da 1ª à 5ª Séries do Ensino
Fundamental.
Hoje, 10 de
junho de 2013, aniversário de nascimento de Manuel Hipólito de Araújo,
comemoram-se também os 50 Anos da Escola São Francisco de Assis I. Os
festejos começaram cedo e vão se estender por todo o dia.
Esta é uma
história de abnegação e entrega do Padrinho Manuel ao auxilio fraterno. O
seu lema sempre foi e é “fazer o bem sem olhar a quem”.
Fonte: Jornal Grande Bahia
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