A reportagem estampada hoje em quase todos os jornais locais e postada neste blog (vela aqui) e vídeo abaixo deixa-nos todos preocupados, constrangidos e perplexos ante a forma com que a Polícia Federal trata do assunto, associando a ayahuasca (Daime, Hoasca) com drogas ilícitas.
Com preocupação, porquanto sentimos que todo trabalho desenvolvido ao longo dos anos, na busca incansável de legitimar o uso ritual e responsável da ayahuasca perante toda a sociedade, através de práticas tradicionais, ordeiras e com respeito às leis, ver “criminalizada” esta prática genuinamente amazônida e maculada a memória dos nossos mestres fundadores de maneira equivocada, considerando tudo que eles representaram na formação moral, social e cultural da história do nosso estado.
Constrangidos ao ver o nome de pessoas de bem, ilustres, honradas e de bons costumes que comungam a santa bebida, a cerca de 50, 60, 70 anos, serem agredidas como se estivem se utilizando de uma prática condenável, ilegal ou inconstitucional.
A associação da ayahuasca com as chamadas drogas proscritas, além de nos constranger, demonstra desconhecimento do trabalho que as comunidades ayahuasqueiras têm prestado à sociedade acreana em termos de assistência social e de formação moral, contribuindo, fortemente, para afastar pessoas da criminalidade e dos vícios e, joga no cesto de papel todo o trabalho que elas, ao longo dos anos, desenvolvem visando manter a prática como de uso responsável, regular e cultural.
Vejo que está na hora de um posicionamento firme das comunidades atingidas, do CONAD – Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas, como órgão regulador e responsável pela regulamentação da bebida em todo território nacional, dos parlamentares acreanos, assim como o governo do Estado, Prefeitura Municipal de Rio Branco e suas respectivas fundações de cultura que assinaram o pedido de registro destas práticas como Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira.
Faço minhas as palavras da Madrinha Chica, em entrevista para TV Aldeia, quando disse: "O povo diz que o daime é droga, mas ele não é droga, se fosse eu erá o quê?, vivia jugando pedras na lua...). A Madrinha recebe a Santa Bebida a aproximadamente 55 anos e o mesmo, certamente, poderia ser dito por muitas outras pessoas, como Dona Peregrina Serra, Dona Neném e tantas outras.
João Guedes Filho é membro do Centro Espírita Obras de Caridade Príncipe Espadarte e articulador da Câmara Temática de Culturas Ayahuasqueiras, do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Município de Rio Branco.
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