Por Juarez Bomfim
Amigos,
Existe em Rio Branco-Acre, uma doutrina ayahuasqueira muito falada e pouco conhecida, que é designada com o carinhoso nome de “Barquinha”. Pouco conhecida porque é uma doutrina não expansionista que só existe lá na capital acreana. Uma exceção da Barquinha da Madrinha Chica Gabriel é uma filial em Niterói, Rio de Janeiro – e só.
Nesta casa, Centro Espírita Obras de Caridade Príncipe Espadarte, se realizam 5 romarias ao ano, e se faz sessões com a bebida sacramental daime, aproximadamente em dois terços dos dias do ano. Os participantes desta doutrina vivem intensamente a experiência religiosa no seu cotidiano.
Quem conhece a realidade ayahuasqueira do Planeta Acre e ouve pretensos especialistas darem pareceres sobre ayahuasca, sem nunca terem visitado aquelas plagas, reconhece que eles não sabem de nada – ou quase nada.
Atualmente está acontecendo o ritual de Romaria de Nossa Senhora, de 1º a 31 de maio, 31 dias de penitências, orações e cânticos devocionais aos patronos da Missão - São Sebastião, São José e São Francisco - e principalmente à Virgem Mãe e o Nosso Senhor Jesus Cristo.
Existe uma pequena bibliografia acadêmica sobre essa encantadora linha religiosa, e aqui e ali alguns outros poucos escritos. Para quem quer conhecer um pouco mais sobre esta genuína religiosidade brasileira, leia o texto a seguir e conheça o site e o Blog, muito bem zelados pelo irmão amigo João Guedes Filho.
Romarias
“Muitos que buscam se aproximar da Barquinha se deparam com termos que, embora comuns para os participantes, causam certa estranheza em quem chega.
As romarias, por constituírem momentos fundamentais no calendário espiritual da Barquinha, merecem neste sentido especial atenção. Historicamente podemos situar a prática das romarias no catolicismo popular nordestino, onde os romeiros fazem longas peregrinações a lugares sagrados, normalmente igrejas dedicadas a Santos pelos quais se nutre especial devoção.
Estas peregrinações duram dias, por vezes semanas, e revestem-se de caráter sagrado e sacrificial, uma vez que nas longas caminhadas pela aridez do sertão, na escassez por vezes até mesmo de água, os romeiros buscam purificar-se de suas imperfeições e ofertar seus sacrifícios a Deus e aos Santos aos quais dedicam suas devoções.
A chegada ao local destinado costuma acompanhar-se de grandes festividades e muita alegria, pois os que conseguiram cumprir tão duro compromisso sentem-se como que se reencontrando a si próprios.
Mas como o costume das romarias se inseriu na Barquinha? Bem, a princípio é importante ressaltar que a povoação e porque não dizer "colonização" do Acre se deu em grande parte por emigrantes nordestinos que, fugindo da seca buscavam o sonho amazônico, o "eldorado" de uma terra fértil, cercada de verde e com água em abundância.
Embora este sonho viesse a se converter em pesadelo para muitos que se tornaram seringueiros no regime semi-escravo de produção de borracha, os sertanejos por lá se implantaram, levando consigo suas crenças e costumes, dentre os quais as romarias.
Na Barquinha, religião de caráter sincrético que tem no catolicismo popular uma importante fonte inspiradora, as romarias ganharam um significado ainda mais profundo e se integraram ao calendário oficial da casa, cumprindo-se cinco romarias por ano.
Embora não consistam mais em longas caminhadas a localidades distantes, seu caráter de peregrinação se preserva enquanto jornada espiritual. Durante os períodos de romarias, os participantes assumem compromissos diversos, que vão de abstinência de prazeres mundanos a intensificação das preces e trabalhos espirituais.
Seu término igualmente é marcado por grandes festividades nos quais as romarias são entregues aos Santos que as motivaram. Assim, de jornada física e peregrinação sacrificial, as romarias assumem na Barquinha seu pleno caráter simbólico de viagem espiritual, onde através do Daime se busca fazer a Caridade, acolhendo no Barquinho Santa Cruz os seres necessitados, encarnados e desencarnados, enquanto se caminha no plano astral, rumo aos sagrados pés de Deus.”
Centro Espírita Obras de Caridade Príncipe Espadarte
Rio Branco (AC), Rua da Paz, nº 134, Bairro Vila Ivonete.
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