Este é um trecho de um artigo escrito pelo filósofo Leonardo Boff e postado originalmente via internet no site Adital.
Acredito que é importante para que possamos refletir um pouco mais sobre o nosso papel no mundo e, da mesma forma, nossas atitudes para com este grande irmão, o planeta terra, e tudo que nele habita.
Que o bom Francisco de Assis nos inspire!
Como devemos nos relacionar com a natureza e com a Mãe Terra?
Todos os biógrafos do tempo (Celano, São Boaventura, Legenda Perugina e outros) atestam "o terníssimo afeto que Francisco de Assis nutria para com todas as criaturas”; "dava-lhe o doce nome de irmãos e irmãs de quem adivinhava os segredos, como quem já gozava da liberdade e da glória dos filhos de Deus”. Recolhia dos caminhos as lemas para não serem pisadas; dava mel às abelhas no inverno para que não morressem de frio ou de escassez; pedia aos jardineiros que deixassem um cantinho livre, sem cultivá-lo, para que ai pudessem crescer todas as ervas.
Aqui notamos um outro modo-de-estar no mundo, diferente daquele da modernidade. Nesta o ser humano está sobre as coisas como quem as possui e domina. O modo-de-estar de Francisco é colocar-se junto com elas para conviver como irmãos e irmãs em casa. Ele intuiu misticamente o que hoje sabemos por um dado de ciência: todos somos portadores do mesmo código genético de base; por isso um laço de consanguinidade nos une, fazendo que nos respeitemos e amemos uns aos outros e jamais usemos de violência entre nós.
São Francisco está mais próximo dos povos originários, como os Yanomami ou os andinos que se sentem parte da natureza do que dos filhos e filhas da modernidade técnico-científica para os quais a natureza, tida como selvagem, está ao nosso dispor para ser domesticada e explorada.
Toda modernidade se construiu quase que exclusivamente sobre a inteligência intelectual; ela nos trouxe incontáveis comodidades. Mas não nos fez mais integrados e felizes porque colocou em segundo plano ou até recalcou a inteligência emocional ou cordial e negou cidadania à inteligência espiritual.
Hoje faz-se urgente amalgamar estas três expressões da inteligência se quisermos desentranhar aqueles valores e sentimentos que tem nelas o seu nicho: a reverência o respeito e a convivência pacífica com a natureza e a Terra. Esta diligência nos alinha com a lógica da própria natureza que se consorcia, inter-retro-conecta todos com todos e sustenta a sutil teia da vida.
Francisco viveu esta síntese entre ecologia interior e a ecologia exterior a ponto de São Boaventura chama-lo de "homo alterius saeculi” "um homem de um outro tipo de mundo”, diríamos hoje, de outro paradigma.
Esta postura será fundamental para o futuro de nossa civilização, da natureza e da vida na Terra. A herança sagrada, legada por São Francisco de Assis, poderá ajudar toda a humanidade a fazer a passagem deste tipo de mundo que nos pode destruir para um outro, vivido em antecipação por São Francisco, feito de irmandade cósmica, de ternura e de amor incondicional.
(Parte do texto do filósofo Leonardo Boff )
Fonte: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=74735